O JARDINEIRO FIEL

Prochin e o muro da polêmica: heras para evitar as pichações

Envolvido com processos judiciais de segunda a sexta-feira, o procurador da Fazenda Nacional José Carlos Prochin, 61 anos, não quer saber de ócio nas horas vagas. Muito pelo contrário.

Nos fins de semana, ele arregaça as mangas e sai pelas ruas do bairro Jardim Botânico plantando flores e mudas em calçadas, muros e terrenos baldios. Detalhe: Prochin não faz parte de nenhum grupo ambientalista, e nem quer fazer.

''Essa é a minha forma de descansar. Se tiver mais gente no meio, estraga'', afirma, ao ser perguntado se gostaria de deixar algum contato para publicação, caso alguém se interesse em ajudá-lo.

Morador daquela região, o jardineiro solitário conta que escolheu viver em Curitiba após ter passado por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. ''Estudei aqui nos anos 60 e guardei essa imagem de cidade limpa, com muitas flores nas ruas'', conta.

Hoje, no entanto, ele tem outra opinião. ''Curitiba ainda mantém algumas dessas características, mas está decaindo. O sul do país tem adotado, cada vez mais, uma cultura generalizada, nivelada por baixo'', lamenta. Para Prochin, o problema é que as pessoas só se preocupam em cuidar de suas casas. ''Da soleira para fora, a prefeitura que se vire'', ironiza.

Desde o início de sua jornada, há cerca de cinco anos, o procurador plantou milhares de mudas bairro afora. Ao longo da linha do trem, por exemplo, foram mais de 300 bambus da índia.

Mas há quem não compreenda - ou não aceite - sua proposta. Como a administração de um condomínio que simplesmente arrancou as heras (trepadeiras) plantadas por ele em um dos muros preferidos dos pichadores da região. ''Eles alegaram que aquilo daria muito trabalho para cuidar'', diz.

Obstinado, Prochin não desistiu e fez uma campanha de esclarecimento junto aos moradores do conjunto. Provou que sua iniciativa não servia apenas para melhorar a aparência do lugar - também valorizaria o imóvel no mercado. Diante desse argumento, não houve quem não o apoiasse. E agora as heras crescem à vontade pelo muro.

Para o futuro, o procurador pretende comprar uma caminhonete, que facilitará o seu trabalho. Enquanto isso, segue plantando mudas e recolhendo o lixo das ruas durante sua caminhada para o escritório - outra de suas manias. ''O pessoal acha estranho quando me vê com uma pasta executiva numa mão e um saco cheio de lixo na outra'', reconhece, bem-humorado.

por OMAR GODOY
com foto de LETÍCIA MOREIRA
setembro de 2008

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