SÉTIMO SENTIDO

Encontro de parapsicologia
reúne pesquisadores em Curitiba


Terapia com pirâmides: catalizando energias cósmicas

Stanley Krippner: pioneiro na investigação da consciência humana

Professor Fábio, organizador do encontro: ‘‘Perspectiva mais relaxada da realidade’’


Durante quatro dias, um grupo de 90 pessoas se reuniu em Curitiba para debater o que não se consegue explicar. O evento, batizado de Encontro Psi, trouxe à cidade pesquisadores brasileiros e internacionais de um campo científico ainda controverso: a parapsicologia.

A quarta edição do congresso, promovido pelas Faculdades Integradas ''Espírita'', aconteceu entre os dias 10 e 13, no auditório de um hotel. Na programação, mesas redondas, palestras, workshops e apresentações de artigos. Todos voltados para o tema central do encontro, a relação da parapsicologia com a psicologia.

Cerca de 15 trabalhos acadêmicos foram divulgados. Alguns com títulos tão curiosos quanto os conteúdos - ''Telepatia por telefone: um estudo exploratório'', ''Os anagramas fonéticos especulares significativos e as vozes paranormais reversas'', ''Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médius espíritas''. E por aí vai...

Três convidados internacionais participaram do encontro: o inglês David Luke (doutor pela Universidade de Northampton), o japonês Hideyuki Kokubo (cientista sênior do International Research Institute) e o norte-americano Stanley Krippner (Ph.D pela Northwestern University). Este último, pioneiro na investigação científica da consciência humana, roubou a cena com seu bom humor e animação.

Para justificar a importância da parapsicologia, Krippner, 76 anos, costuma contar a história de uma índia americana que foi a um hospital para tratar de uma gripe. Durante a avaliação, fez a besteira de revelar que ouvia vozes o tempo todo. ''E ouvia mesmo! Para os indígenas, o vento, os animais e as montanhas estão sempre falando com as pessoas'', diz o pesquisador.

Preocupados, os médicos a internaram em uma clínica psiquiátrica. A índia, como era de se esperar, pediu ajuda às vozes. Recebeu um conselho: fingir que estava tomando os remédios e, depois de cinco dias, afirmar que não ouvia mais nada.

''Ela foi liberada e todos ficaram felizes, inclusive as vozes'', brinca Krippner, para em seguida falar sério. ''Pense em quantas pessoas estão sendo diagnosticadas agora com doenças mentais, mas sem provas concretas? Devemos estudar mais os fenômenos psi, para evitar casos desse tipo''.

COMPORTAS DO SER

À noite, os participantes mergulhavam de cabeça nas atividades da 3ª Jornada de Estados Modificados de Consciência. Neste ano, o evento paralelo promoveu vivências em contextos culturais e religiosos como a umbanda, o Santo Daime, a pajelança indígena e a terapia com pirâmides. A reportagem acompanhou esta última etapa, orientada pelos membros da União Fraterna Universal.

Também conhecido pela sigla UFU, o grupo atua em Curitiba há quase 30 anos e se considera ''a nova escola telepática do terceiro milênio''. Seus adeptos acreditam que as pirâmides são catalizadoras de energia cósmica, capazes de reestabelecer a harmonia humana e promover curas.

O procedimento é extremamente simples. Após tomar um copo d'água, o indíviduo deve entrar na pirâmide, fechar os olhos e soltar o pensamento durante 30 minutos. Quanto maior for a entrega, melhor é o resultado. ''Tem gente que chora, canta, desenha, fala em outras línguas'', conta o empresário Wilson Janoto, frequentador da UFU desde os anos 80.

Durante a demonstração com pessoas da platéia, membros do grupo ofereciam, aleatoriamente, desenhos para os espectadores. De acordo com Janoto, trata-se de uma prática comum entre os adeptos. ''Quando você abre as comportas do ser, desenvolve o amor incondicional com maior facilidade. A partir daí, não vê problemas em dar um abraço em alguém ou oferecer um desenho sem motivo''.

Por conta do tempo limitado, os voluntários passaram apenas 10 minutos na pirâmide. Ainda assim, Janoto abriu o microfone para quem quisesse relatar a experiência.

''Senti o grande sol central se derramando sobre nós'', empolgou-se uma senhora. ''Comigo não aconteceu absolutamente nada'', retrucou outra. ''É assim mesmo. A prirâmide age de acordo com a necessidade de cada um. Eu, por exemplo, sempre durmo durante as sessões'', explicou Janoto, para quem a terapia é ''tão simples que chega a ser complexa''.

Contrasenso? Na opinião dos entusiastas do mundo psi, certamente não. ''Quem se envolve com esse tipo de pesquisa se obriga a fazer uma reflexão ampla sobre a vida. E acaba ficando com uma perspectiva mais relaxada da realidade'', afirma Fábio Eduardo da Silva, organizador do encontro e professor de parasicologia das Faculdades ''Espírita''.

Para quem está mais acostumado com perguntas do que respostas, faz todo o sentido.

QUANDO A CIÊNCIA NÃO EXPLICA

Muitos adeptos da pesquisa psi fizeram um longo percurso acadêmico antes de encarar a dimensão do desconhecido. São mestres, doutores e pós-doutores que, em determinado momento da vida, simplesmente perceberam as fragilidades da metodologia científica. Entre eles há quem tenha, inclusive, estreitado relações com a espiritualidade.

''Os cientistas vão me considerar apenas um crente. Mas me sinto confortável ajudando as pessoas dessa maneira'', afirma Mário Sérgio Silveira, diretor do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro. Participante de uma das mesas redondas do Encontro Psi, ele relatou casos em que a medicina e a mediunidade trabalharam juntas em favor do paciente.

Como o da jovem que foi abusada sexualmente, entrou em depressão e começou a ouvir ''vozes de comando''. As mensagens eram claras: ela devia se matar. Por meio de um médium, Silveira conversou com a ''voz'' e a convenceu a deixar a moça em paz. ''A relação entre espiritualidade e saúde é importante e deve ser melhor investigada'', diz o psicólogo.

Pela terceira vez no encontro, o engenheiro e parapsicólogo pernambucano Jalmir Brelaz também narrou um caso semelhante. Em Recife, um psiquiatra estava às voltas com uma paciente em estado ''robotizado''. Na porta do hospital, foi abordado pelo vigia, que afirmou ser médium e aconselhou um tratamento espiritual para a mulher.

O médico, que é casado com uma mãe de santo, acatou a sugestão e levou o problema a um terreiro. Por telepatia, ou algo parecido, a paciente foi curada. ''Juntos, o psiquiatra, o vigia e um médium da umbanda enviaram sugestões positivas para desfazer as mensagens negativas que ela estava recebendo de alguma entidade'', acredita Jalmir, presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.

Longe de ser um especialista no assunto, o psicólogo José Facion, professor da Faculdade Internacional de Curitiba, está mais para cético do que para crente. Mesmo assim, aceitou o convite para participar do encontro. Para ele, as evidências científicas não são suficientes para descrever por completo o fenômeno do comportamento humano. ''Além do mais, acredito que 99% dos trabalhos de mestrado e doutorado são um lixo, porque todo o pesquisador que levanta uma hipótese quer que ela seja confirmada''.

Mas Facion também faz o papel de ''advogado do diabo''. ''Quando você não tem explicações para um fato, entra no campo da interpretação, onde vale tudo. E é aí que mora o perigo'', alerta.

O ESTUDO DO ESTRANHO

A parapsicologia é o estudo de fenômenos e eventos raros que parecem transcender as leis da natureza, como telepatia, premonição, levitação, movimento de objetos a distância, entre outros.

Também chamada de pesquisa psi, dialoga com vários campos científicos, religiosos e até mesmo esotéricos. Não à toa, atrai interessados de muitas áreas (de físicos a teólogos, passando por biólogos, espiritualistas e, é claro, psicólogos). Sem contar os curiosos de plantão - afinal, estima-se que cerca de 50% da população em geral tem alguma experiência com fenômenos estranhos para relatar.

No mundo ocidental, a parapsicologia surgiu como ciência no século 19, na esteira do interesse de europeus e norte-americanos pelo espiritismo. Mas a explosão aconteceu mesmo durante a última década de 60, período em que as ''portas da percepção'' foram escancaradas em todos os sentidos.

Hoje, universidades do mundo todo mantêm departamentos voltados para o tema. Só na Inglaterra, há mais de dez instituições do gênero. O Brasil conta com iniciativas isoladas e descentralizadas, com destaque para os trabalhos desenvolvidos na Universidade de São Paulo (USP) e na PUC-SP.

Em Curitiba, as Faculdades Integradas ''Espírita'' (que promove o Encontro Psi) oferece um curso livre e uma pós-graduação na área. Para saber mais, acesse o site da instituição.

por OMAR GODOY
com fotos de THEO MARQUES
julho de 2008

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