SEM ARREPENDIMENTOS

Fãs de tatuagens testam os limites do bom gosto
com desenhos cada vez mais estranhos e controversos

Daniel, aprendiz de tatuador: alvo móvel

O cobrador Vilson: máscara maori no crânio

Brenda e sua galinha-d’angola

Os profetas da tinta garantem: ainda vai chegar o dia em que a humanidade inteira terá tatuagens. Enquanto isso não ocorre, há quem se divirta testando todos os limites estéticos da arte na pele. A ordem agora é inovar, seja no tema, tamanho ou local do desenho.

Recém-lançado nos Estados Unidos, o livro No Regrets (‘‘Sem Arrependimentos’’) vem fazendo barulho por mostrar as tattoos mais inusitadas, bizarras e ridículas de que se tem notícia. De cavalos alados copulando ao retrato da popstar Britney Spears com a cabeça raspada, a compilação é a prova de que a idéia do corpo como templo sagrado já era. Pelo menos aos olhos de quem vê. Pois, para os tatuados, todo desenho tem lá seu sentido, por mais estranho que pareça.

Que o diga a professora de inglês Brenda Lee, 20 anos. Dona de seis tatuagens, ela chama a atenção por conta de dois desenhos em especial: um ornitorrinco e uma galinha-d’angola. ‘‘Adoro animais. Especialmente aqueles mais estranhos, que as pessoas não gostam muito’’, diz.

Brenda conta que faz uma tattoo por ano. Começou aos 14, quando ganhou de presente de Natal dos pais uma das Meninas Superpoderosas. Em 2008, deve prosseguir com a série zoológica. ‘‘Quero fazer uma zebra, mas ainda estou pensando’’.

O mundo animal também serviu de inspiração para a psicóloga Vanusa Ataíde, 37. Apaixonada por Shiva e Pashu, seus dois pitbulls, ela ostenta um exemplar da raça nas costas. ‘‘É uma forma de desmistificar o pitbull, considerado um cão assassino e indócil’’, explica. Quem a observa com atenção não acredita que uma mulher tão delicada tenha uma tatuagem digna do Alexandre Frota. ‘‘É o meu guarda-costas’’, brinca Vanusa, que ainda exibe dois cachorros estilizados na panturrilha direita.

Desenhos grandes em lugares incomuns são ainda mais surpreendentes. Como no caso do aspirante a tatuador Daniel Henrique, 19, capaz de fazer qualquer um arregalar os olhos quando tira a camiseta. Daniel tem um alvo enorme no peito, tatuado em duas dolorosas sessões de uma hora e meia. ‘‘Vi essa tattoo em um clipe da banda Rammstein e resolvi fazer igual. Mas, na real, ela não tem significado nenhum’’, admite.

Dor mesmo sentiu o cobrador de ônibus Vilson Silva, 25. Há um ano, ele começou uma máscara no estilo maori (o povo nativo da Nova Zelândia) na cabeça. Parou porque não suportava a perfuração e o barulho da máquina. No início desta semana, Vilson tomou coragem novamente e retomou as agulhadas. ‘‘Sempre quis ter uma tattoo num lugar diferente. Quando vi essa máscara, achei que encaixaria perfeitamente no ‘coco’’’, justifica o cobrador, que ainda vê o desenho como uma forma de esconder a calvície precoce.

Vilson trabalha de boné para não impressionar os passageiros da linha Vila Velha. E, em casa, a família aceita seu gosto peculiar por tatuagens. ‘‘Minha mãe até prefere a da cabeça. Tenho outra nas costas, do Wolverine, que ela confunde com o diabo’’, conta. O pai, conservador, também aprendeu a não interferir nas escolhas do filho. ‘‘Ele diz que é melhor eu ficar como um gibi do que usar brinco’’, afirma.

Mas nada se compara, em termos de controvérsia, à 16.ª tattoo do estudante de Mecânica Industrial Bruno Fressato, 22. Feita em março, já é considerada uma lenda urbana na cidade. Em qualquer estúdio que se vá, há sempre alguém pronto para mencioná-la. Trata-se da reprodução perfeita de um órgão genital feminino, estampada na barriga do rapaz.

Entre outros desenhos, Bruno tem o rosto da atriz Angelina Jolie tatuado na parte inferior do braço e diversos símbolos religiosos espalhados pelo corpo. No entanto, todas as atenções são desviadas para o trabalho mais recente (que, por motivos óbvios, não será mostrado aqui). ‘‘A gente só tatua aquilo que gosta’’, explica. Precisa dizer mais?

MUDEI DE IDÉIA

Em um mundo cada vez mais tatuado, nem todos se orgulham de seus ornitorrincos, alvos e celebridades. Muitos que fizeram suas tattoos por impulso ou simplesmente mudaram de idéia, agora procuram correr atrás do prejuízo. Para se ter uma noção, quase um terço do trabalho dos profissionais da área já se destina à reforma e cobertura de desenhos antigos.

O número de arrependidos é tão grande que alguns tatuadores têm se recusado a fazer determinados desenhos. Principalmente nomes de namorados, os campeões no quesito remorso. Guilherme Bokka, dono de um estúdio no Água Verde, lembra de um cliente que aprontou com a noiva e decidiu homenageá-la na pele como forma de se desculpar. ''Apostei que, em seis meses, ele retornaria para cobrir a tatuagem. Três semanas depois, o cara já estava aqui de volta''.

Por essas e outras, Bokka parou de tatuar nomes femininos. Símbolos controversos, como suásticas e o número da besta, também estão fora de cogitação. ''Me nego a fazer porque a pessoa não vai ganhar nada com isso. E tatuagem é uma arte, um ritual. A imagem deve ter uma representatividade por trás'', afirma.

No momento, o tatuador tenta convencer o cobrador de ônibus Vilson a não aumentar o desenho maori que tem na cabeça. ''Ele quer descer para a testa, mas vai ficar muito agressivo'', conta. E diverte-se: ''Tenho de aprender um jeito de impedir que os clientes façam besteira''.

A comerciante Leiry Andrade, 25, é cliente assídua do estúdio Bokka Tattoo. Sua meta é cobrir três tatuagens de dez anos atrás. ''Além de serem mal-feitas, elas deformaram depois que eu engravidei'', justifica. Enquanto reforma as antigas, Leiry não pára de fazer tatuagens novas. Há duas semanas, cravou na pele a frase ''Meu filho, minha vida''.

Para evitar arrependimentos, o estúdio Teix, no Centro, adotou um expediente comum no exterior: simular o desenho no corpo do cliente por meio de computação gráfica. ''Se a pessoa estiver segura, a gente faz'', diz Jô Maciel, que administra a loja.

Seu marido, Marco Texeira, é o principal tatuador do local, mas Jô não encara a atividade como uma forma de arte. ''Salvo algumas exceções, vejo a tatuagem como uma prestação de serviço. O tatuador pode até buscar referências artísticas, mas faz um trabalho comercial. Por isso, não nos metemos na vida dos outros''.

LASER NELES!

A remoção de tatuagem com laser já é uma realidade, mas não se trata de um processo tão simples. ''Antes de começar o tratamento, eu sempre tento convencer o paciente a ficar com o desenho'', confessa o cirurgião plástico Oscar Villanueva, que há cinco anos realiza esse tipo de trabalho em Curitiba.

Não há efeitos colaterais e qualquer pessoa está apta para se submeter ao laser. A única restrição diz respeito à cor da pele - quanto mais clara, mais fácil é a remoção. Qual o problema, então? ''É um procedimento doloroso, ainda que a dor seja suportável, e demorado. Tatuagens maiores podem levar um ano para ser removidas'', afirma o médico.

As sessões em si são curtas, duram cerca de 15 minutos. Mas o paciente deve esperar dois meses para voltar ao consultório. A explicação, de acordo com o cirurgião, é simples. Os disparos de laser quebram as gotículas de tinta, que continuam no organismo. A partir daí, entram em ação os macrófagos, células especializadas em comer corpos estranhos. Essa comilança, mais a eliminação da substância, leva entre 45 e 60 dias.

Nem toda tattoo sai por completo, por isso há quem remova uma parte para depois reformá-la. Se o desenho for pequeno, em três sessões é possível ter a pele praticamente nova em folha. Ao custo médio de R$ 200 por sessão, é claro.

A exemplo do que ocorre nos estúdios que cobrem tatuagens, pessoas com nomes escritos no corpo são os maiores clientes do doutor Villanueva. ''É o que mais aparece por aqui. E, na maioria dos casos, é o novo parceiro que traz a namorada ou namorado para retirar o nome'', revela.

por OMAR GODOY
com fotos de Letícia Moreira
maio de 2008

Um comentário :

Anônimo disse...

Eu gosto das tatuagens, mas as vezes um pode se arrepender...
Hoje em dia com as novas tecnologias, um pode fazer desaparecer essa tatuagem com cirurgia plástica em curitiba