KOMBINATIONFAHRZEUG

Colecionadores se reúnem para cultuar
o utilitário mais tradicional do Brasil

Clube promove encontros mensais, em Curitiba, para celebrar o ‘‘veículo combinado’’
O PM Lobo e sua Kombi 72, comprada de um limpador de fossas

Ronaldo, o mascote Kombolino e o modelo 68: ‘‘Só o meu é 100% original’’


O médico Ronaldo Mobius, 47 anos, orgulha-se ao falar do clube que fundou e preside. ‘‘É o primeiro e único do Brasil dedicado exclusivamente à Kombi’’, garante. Dono de um modelo 1968, comprado novo pelo pai, o dermatologista tem outros carros antigos em casa. Mas paixão mesmo, só pelo utilitário.

Ao lado dos outros 15 sócios do Clube da Kombi de Curitiba, Ronaldo não se continha de satisfação durante a exposição que o grupo promoveu no último fim de semana, em um shopping da cidade, para comemorar o primeiro aniversário. Entre os 11 veículos à mostra, apenas o dele não havia passado por reformas. ‘‘Só o meu é 100% original, por isso sou o presidente’’, brinca.

O médico explica que fuscas, opalas e brasílias bem-conservadas existem aos montes por aí. Kombis, no entanto, são uma raridade. ‘‘É um carro usado para trabalho, que a pessoa compra para moer mesmo. Daí a dificuldade de se encontrar uma em bom estado’’.

Para ele, todo brasileiro tem alguma história para contar sobre uma Kombi. Afinal, trata-se do único automóvel produzido ininterruptamente no país há mais de 50 anos. De transporte escolar à viatura policial, já foi usado para quase tudo. Aliás, o nome original em alemão, Kombinationfahrzeug, quer dizer justamente ‘‘veículo combinado’’ ou ‘‘veículo multiuso’’.

Foi nos anos 40 que o holandês Ben Pon, um importador da Volkswagen, idealizou o primeiro modelo. A idéia de unir a mecânica eficiente do fusca com a funcionalidade dos veículos de cargas leves agradou à direção da companhia, e a primeira Kombi chegou ao mercado em 1950.

No Brasil, a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) já produziu mais de 1,4 milhão de unidades desde 1957 - inclusive para exportação. Hoje, um modelo novo custa cerca de R$ 40 mil. Bem mais barato do que suas herdeiras, as vans, minivans e outros utilitários do gênero. ‘‘É o melhor custo-benefício que existe. Esse carro ajudou a construir o país’’, empolga-se Ronaldo.

O médico conta que ajuda a cuidar da Kombi da família desde os 6 anos de idade – daí a ligação afetiva. Hoje, surpreende-se com o interesse da filha, de 5. ‘‘Nosso mascote, o Kombolino, é uma doação dela’’, diz, segurando um urso de pelúcia.

Co-fundador do clube, o policial militar Vinícius Lobo, 38, também faz questão de contar sua história com a Kombi. A dele, modelo 1972, foi comprada há 7 anos de um limpador de fossas, em Guaratuba. ‘‘Sou apaixonado por carros da década de 70. Tenho Fusca, Variant, TL. Mas é dela que gosto mais’’, afirma, apontando para o bólido retrô.

Caçula do grupo, o comerciante Anderson Marçal, 28, só descobriu ter um ‘‘tesouro’’ em casa quando se uniu ao clube. Ele comprou o carro em 2004, sem saber que se tratava de uma rara Kombi Cela, usada para carregar prisioneiros e fabricada entre as décadas de 1980 e 1990.

Aficionado por automóveis antigos desde a infância, Anderson confessa que não imaginava trocar de lado. ‘‘Antes eu era apenas um visitante dessas exposições. Agora estou mostrando meu carro’’, festeja.

Por essas e outras, ele agora só usa a Kombi em situações especiais. No trabalho, nem pensar. ‘‘No máximo, para levar um pacote bem leve’’, admite. Enfim um descanso para aquela que ajudou a construir o país.


MINHA HISTÓRIA

Se é verdade que todo mundo tem alguma história com uma Kombi, não sei. Mas eu também tenho a minha.

Aconteceu em meados dos anos 1990, quando morava em Brasília. Como se sabe, o transporte público na capital federal é de lascar. Além de ter a passagem de ônibus mais cara do país, a cidade oferece poucas linhas e veículos em péssimo estado de conservação. Na condição de pedestre profissional, buscava me livrar dessa situação a todo custo.

Nas vezes em que não conseguia carona, apelava para as lotações. Autorizadas pelo governo distrital, cobravam o preço do ônibus, aceitavam vale-transporte e faziam os mesmos trajetos. Hoje esse tipo de serviço é realizado por vans, mas naquela época era totalmente dominado pelas kombis.

Pois bem. Uma noite, voltando da faculdade em uma lotação, percebemos que estávamos sendo seguidos por um camburão da Polícia Militar. Escrevi no plural porque éramos nove - sete passageiros, o motorista e seu assistente, um misto de guia e cobrador.

A viatura foi se aproximando até ligar a sirene e colar ao lado da Kombi. Os PMs, com os braços para fora, exibiam escopetas, pistolas e outros brinquedos perigosos. O motorista, é claro, parou imediatamente. Assim que o co-piloto abriu a porta, um dos passageiros saiu correndo em direção a um matagal.

Alguns policiais, de lanterna na mão, verificavam se havia algum suspeito entre nós. Os outros dispararam atrás do fujão, que logo foi capturado.

E não é que o sujeito nada tinha a ver com a história? Aparentemente, trata-se de um homem de bem, voltando do trabalho. Mas ficou tão apavorado com o cerco policial que não pensou duas vezes. Ou melhor, nem chegou a pensar: apenas deu no pé, por puro instinto. Felizmente, foi liberado e pôde seguir viagem.

Depois desse susto, deixei de recorrer à lotação. E, pensando bem, nunca mais andei de Kombi.

Clube da Kombi de Curitiba

por OMAR GODOY
com fotos de LETÍCIA MOREIRA
agosto de 2008

Um comentário :

Anônimo disse...

Onde posso achar uma Kombi? O preço é accessível ou é muito caro?
Posso achá-lo em algum lugar de dermatologia em curitiba ?