ENSAIO SOBRE O SOM

Laroca assina o trabalho de som de Ensaio Sobre a Cegueira


Alessandro Laroca está em cartaz nos cinemas com Ensaio Sobre a Cegueira, do diretor Fernando Meirelles. E antes que alguém pergunte: não, ele não está entre os personagens que perdem a visão e são confinados em uma espécie de campo de concentração.

Laroca, de 38 anos, é o supervisor de edição de som do longa-metragem. Coordena uma equipe de dez técnicos, responsáveis por criar a atmosfera sonora do filme. Detalhe: tudo produzido em Curitiba, em um estúdio localizado no bairro do Alto da XV.

"Durante a filmagem, praticamente só se captam os diálogos. Todo o resto é feito depois. Nosso trabalho é desenvolver efeitos, dublagens e acréscimos de som. Do barulho da porta do carro aos passos dos personagens", explica.

Um dos poucos - e reconhecidamente bons - profissionais do gênero no Brasil, Laroca trabalhou em títulos como 2 Filhos de Francisco, Olga, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e Tropa de Elite, entre outros. Mas a projeção veio mesmo com Cidade de Deus, que lhe rendeu prêmios nacionais e internacionais. "O Fernando (Meirelles) queria ter um brasileiro no departamento de som, que era todo composto por estrangeiros, e acabou me chamando", lembra.

Nascido em Castro, Laroca chegou a Curitiba no fim dos anos 80. Já atuava como músico profissional e técnico de estúdio quando resolveu estudar cinema em São Paulo. As duas paixões se combinaram e, até por falta de mão-de-obra especializada no mercado, ele se encaminhou para a área audiovisual. Praticamente um autodidata, começou trabalhando em curtas-metragens universitários, até ser convidado para produções maiores.

Sobre o fato de não estar em um grande centro, mas participar de filmes importantes, ele conta que a descentralização é uma tendência no cinema. "É comum, por exemplo, um longa ser montado na Nova Zelândia, mixado na Inglaterra e finalizado nos EUA. Muita coisa é acertada em conference calls (reuniões a distância, via telefone). Mesmo em Hollywood os caras não querem mais sair de casa", diz.

Atualmente, sua equipe desenvolve três projetos. O longa À Deriva, do cineasta Heitor Dhalia, e as séries de tevê Som e Fúria (para a Rede Globo) e Filhos do Carnaval (HBO). Quanto às metas e sonhos, ele prefere ser realista. "Meu objetivo é ter condições ideais de trabalho. Há um desconhecimento enorme com relação ao que fazemos, inclusive dentro do próprio meio cinematográfico. Se as pessoas tiverem mais noção da importância do som em um filme, poderão nos ajudar a trabalhar melhor", afirma.

por OMAR GODOY
com foto de LETÍCIA MOREIRA
outubro de 2008

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