PARA NÃO FICAR PARADO

O barbeiro Egon faz de tudo para agitar os momentos ociosos


O barbeiro Egon Gonçalves (ele não gosta de ser chamado de cabeleireiro) está sempre inventando alguma coisa para fazer. Seja na ampliação permanente de seu salão, no atendimento aos clientes ou na forma de passar o tempo ocioso. Porque, segundo Egon, o melhor da profissão está na autonomia. E o pior é justamente ficar parado enquanto não chega um novo freguês.

Nessas horas, o dono do Cinco de Maio e sua equipe se dedicam ao xadrez. Desde que aprendeu as manhas do tabuleiro, Egon faz questão de ensinar o jogo a todos os funcionários recém-chegados. Com um detalhe: o patrão adora zoar os perdedores no final.

O clima de gozação aumenta quando chega uma nova fotomontagem. Produzidas por um cliente que trabalha com publicidade, as impressões trazem os barbeiros em capas de revistas famosas, sempre contracenando com alguma celebridade. Como não poderia deixar de ser, o texto das manchetes tira um sarro dos ‘‘homenageados’’.

Outra atração do salão é a clientela de boleiros. Localizado no Água Verde, praticamente atrás da Arena da Baixada, o Cinco de Maio costuma receber vários jogadores do Atlético. Difícil é conter os outros fregueses, ansiosos por autógrafos.

No mais, é aquele papo sobre tudo e todos. ‘‘O barbeiro precisa estar atualizado, ler jornais e revistas. Alguns até são metidos a médico, chegam a passar receitas’’, brinca Egon, apontando para um funcionário.

De tanto ouvir sobre a vida e o trabalho alheio, a equipe acaba se especializando em indicações – de advogados, engenheiros, diaristas, etc. O próprio Egon já ‘‘vendeu’’ uma fazenda para um cliente. ‘‘Se a gente ganhasse comissão por cada indicação, estaria rico’’, afirma.

Nascido em Goioerê há 39 anos, Egon se mudou para Rondônia na década de 80, acompanhando o pai, agricultor. Em Rolim de Moura, trabalhou no comércio até que, cansado do emprego em uma loja de armas, acatou a sugestão de seu barbeiro e fez um curso na área. Saiu-se tão bem na nova carreira que logo foi seguido por outros quatro irmãos.

Voltou ao Paraná quando completou 18 anos, para se aprimorar na Capital. Formou uma clientela e, entre idas e vindas, comprou o Cinco de Maio, fundado em 1933. Manteve o nome, mas transferiu o salão para um terreno maior, com estacionamento. Como as obras por lá não param, agora Egon prepara a construção do segundo andar da casa, para onde vão as cabeleireiras e manicures que trabalham com ele.

Antes, porém, o salão será eternizado pelo cinema. É que uma turma de jovens realizadores vai transformar o espaço em locação para um curta-metragem. Egon não sabe se será chamado para uma ponta, apesar de ter carisma e desembaraço para isso. ‘‘Quando ele morrer, vai precisar de dois caixões. Um para o corpo e outro para a língua’’, diverte-se um funcionário.

por OMAR GODOY
com foto de LETÍCIA MOREIRA
agosto de 2008

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