DEPOIS DE PEQUIM

Eliseu Santos: dos primeiros treinos ao ouro, apenas quatro anos


''Se eu andasse normalmente, não teria conquistado tanto'', afirma o paratleta Eliseu Santos, 31 anos, de Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba). Jogador de bocha, ele acaba de voltar de Pequim, onde ganhou duas medalhas: bronze na competição individual e ouro em dupla com o paulista Dirceu Pinto.

Suas conquistas, no entanto, vêm de antes das Paraolimpíadas. Atleta da categoria BC4 (para jogadores com quadro clínico de distrofia muscular), Santos coleciona êxitos nos campeonatos brasileiro, sulamericano e mundial. Torneios que o levaram para a Argentina, Canadá, Portugal e, é claro, China. ''Tudo lá é muito grande. Passeamos por uma hora na Cidade Proibida e não conhecemos nem 10% do lugar'', lembra.

A distrofia muscular é uma doença genética que afeta os músculos, causando fraqueza. Santos conta que sentiu os primeiro sintomas aos 10 anos, mas ainda assim insistia em jogar futebol. Com dificuldades para andar e até mesmo ficar em pé, acabou virando goleiro nas peladas de rua. ''Eu me apoiava nas traves e tinha de ser levantado por algum colega quando caía. Isso no meio de um lance!'', diverte-se.

Aos 18 anos, contudo, teve de se render à cadeira de rodas. Sem emprego e condições de cursar uma faculdade, passava os dias em casa, onde mora com a mãe e o irmão (portador da mesma doença). Até que um amigo o levou à Associação dos Deficientes Físicos do Paraná, para buscar tratamento e desenvolver atividades ocupacionais.

Santos foi de Pinhais a Curitiba na garupa de uma moto. Mas o esforço valeu a pena. Entre outras descobertas, a convivência na associação despertou novamente seu gosto pelo esporte. Detalhe: ele optou pela bocha sem nunca ter jogado uma partida antes. ''Parece que o esporte foi feito para mim'', afirma.

Os primeiros treinos aconteceram no fim de 2004. Dois meses depois, o paratleta já se destacava no campeonato brasileiro. O resto é história.

Santos agora se prepara para o próximo campeonato brasileiro, em outubro, no Guarujá (SP). Paralelamente, ajuda o irmão a ingressar no esporte. ''Se você puder, coloque uma coisa na matéria. Todos os portadores de deficiência deveriam procurar algum tipo de atividade, e não precisa ser esportiva. Não dá para ficar preso em casa achando que o mundo acabou'', diz. Está dado o recado.

por OMAR GODOY
com foto de MAURO FRASSON
setembro de 2008

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