SEU CABELO É DA HORA

Concorrência acirrada e histórias curiosas
marcam o comércio de madeixas

O cabeleireiro Alex vai pessoalmente buscar cabelos para suas clientes do Batel

José Alvino em ação: pioneiro de um mercado aquecido

Cleide: com cabelos por todos os lados, foi preciso superar o nojo


O cabeleireiro José Alvino Godói se vangloria de ser o pioneiro de um mercado que não para de crescer no centro da cidade. Há 12 anos, ele compra e vende cabelos nos arredores do Terminal Guadalupe, onde também mantém um salão. Um negócio tão rentável que chega a envolver a exportação de madeixas para países como Israel e Estados Unidos.

Segundo Alvino, mais conhecido como Zé do Cabelo, a região já conta com cerca de 20 pontos de transação. E tem sempre gente nova chegando no pedaço. Como a catarinense Cleide da Silva, há apenas nove meses nesse business.

Mal instalou seu salão por ali, ela logo percebeu que deveria diversificar os negócios. Hoje, lucra mais vendendo cabelos do que cortando. O início, no entanto, foi um pouco traumático. "Eu tinha pavor de pegar. Ficava pensando se aquilo não tinha vindo de um defunto", lembra.

Superado o estágio do nojo, é importante ter um olho clínico para encontrar bons materiais. Pois os compradores, normalmente cabeleireiros de salões elitizados, estão cada vez mais exigentes. "Tem que ser comprido, macio e hidratado. Cabelo seco e com tintura ou química não dá", ensina outra veterana da área, Terezinha Rodrigues, há dez anos na ativa.

O sistema é simples. Quem quer vender roda a região fazendo uma espécie de leilão da própria juba. Ao acertar com um salão, recebe uma cartela com fotos de cortes curtos. Escolhe o que mais lhe agrada (para não voltar para casa com o cabelo picotado) e pronto: está fechado o negócio, que pode ficar entre R$ 100 e R$ 300, em média.

Exceções existem. José Alvino, por exemplo, já comprou uma longa madeixa loira por R$ 2 mil. Os loiros, aliás, são disputadíssimos nesse mercado. "Os meus, eu mando trazer de Santa Catarina", revela o cabeleireiro Alex Silva, funcionário de um dos salões mais badalados do bairro do Batel.

Alex vai pessoalmente ao Centro procurar matéria-prima. Especialista em alongamento e megahair, ele também paga para que duas pessoas distribuam panfletos de "Compro cabelo" na rua.

Um bom exemplar, segundo o profissional, pode estar em qualquer lugar. "Teve uma cliente minha que abordou uma garota na rua e ofereceu R$ 1 mil pelo cabelo. A menina topou na hora", conta.

PESQUISA DE MERCADO

Outro que não pensou duas vezes foi o técnico em Mecatrônica Guilherme Dutra, cansado de ter trabalho todos os dias com a cabeleira. Ele seguiu o conselho de uma tia e aceitou passar para frente seus 33 centímetros de fios. Antes, porém, pesquisou o "mercado" na internet. "Procurei no Google e achei vários sites de compra e venda. Tinha até uma tabela de preços", diz Guilherme, feliz com os R$ 120 embolsados no Guadalupe.

Mas nem todo mundo tem tanta convicção assim. Não são raros relatos de gente que chora depois de se ver no espelho. "Já vi uma cliente que comprou o próprio cabelo de volta e reimplantou", diz Terezinha.

Para evitar arrependimentos, a dona de casa Elisângela Durau preferiu pensar mais um pouco - mesmo tendo recebido uma oferta de R$ 200 por suas madeixas negras no salão de José Alvino. "Por esse preço, eles têm de cortar bem curto. Só que eu pensei em deixar chanel", afirma a indecisa.

O perfil dos vendedores é variado - de rapazes que vão prestar o serviço militar a fiéis pagando promessas. "Já tivemos aqui até um caso da mãe que raspou a cabeça para apoiar a filha, que tinha leucemia", recorda Terezinha.

A maioria, no entanto, está atrás de um dinheiro rápido para pagar dívidas. Moradores da periferia, que vão de ônibus até o Guadalupe na esperança de resolver seus pepinos financeiros.

Como uma senhora que saiu de Colombo, na Região Metropolitana, para percorrer o "circuito do cabelo" no começo desta semana. Ela, que preferiu não se identificar, trabalha como diarista e foi sincera com a reportagem. "Não vou mentir, é porque preciso de dinheiro mesmo".

Seu giro pelo Centro, no entanto, foi em vão. Com os cabelos levemente pintados, e ainda pelos ombros, a doméstica recebeu vários "nãos" durante a caminhada. "Só cortei duas vezes nos últimos anos, mas não sabia que compravam", lamenta.

Seja como for, o fato é que tem muita madame andando por aí com as madeixas da empregada. "Isso prova que a pessoa mais humilde também sabe tratar e cuidar dos cabelos", diz Alex, confirmando sua tese de que "um bom cabelo pode estar em qualquer lugar".

CRINAS ROUBADAS

Para se ter uma ideia de como os cabelos alheios são cobiçados, há várias ocorrências de roubo na região do Terminal Guadalupe, seja na forma de pequenos furtos ou até mesmo arrombamentos.

No ano passado, o salão de José Alvino foi invadido durante um fim de semana. Quando chegou para trabalhar, na segunda-feira, não havia sobrado sequer um fio para contar história. "Levaram todo o meu estoque. Tive um prejuízo de quase R$ 200 mil", afirma.

Exagero? Pode ser. De qualquer forma, muitas lojas já contam com câmeras para intimidar os ladrões - ainda que a tática nem sempre faça efeito.

Cleide conta que, dias desses, viu uma mulher tirando uma madeixa da parede e colocando na bolsa, mas ficou constrangida e não a abordou. Quando a falsa cliente foi ao banheiro, ela aproveitou para tirar a prova.

Assistiu às imagens registradas no computador e confirmou o roubo. De volta ao balcão, a mulher percebeu que havia sido flagrada e ficou mais constrangida ainda. "Ela estava tão nervosa que até fez xixi na calça! Saiu correndo sem falar nada", lembra Cleide.

Por essas e outras, os lojistas da região adotaram o expediente de não comprar cabelos que não sejam dos donos. "Só compro cabelo que estiver na cabeça", garante José Alvino.

por OMAR GODOY
com fotos de LETÍCIA MOREIRA
março de 2009

8 comentários :

Andrea disse...

Ola vc poderia me dizer aonde fica o salão do Sr.José no guadalupe,pois não sou de Curitiba e gostaria de ir ate la comprar um cabelo.Obrigada FIQUE COM DEUS!!!!

Omar Godoy disse...

Não sei exatamente o número da loja, Andrea. Mas é só chegar nas imediações do terminal e perguntar por ele - é o mais famoso da região.

Unknown disse...

Boa noite, minha sobrinha tem mais de 60 cm de cabelo natural castanho claro, lindo e bem cuidado, qual o valor que pagariam para ela vende-lo.
Obrigada

Omar Godoy disse...

Não tenho a mínima ideia, Rosana. Alguém aí sabe?

Josiane Szweczuk disse...

olá eu tenho cabelo loiro acinzentado com mechas claras e é grosso ! quero vender mas não sou de curitiba mas se lhe interessar vou em abril praí já vendi meu cabelo em curitiba e foi ai no guardalupe me deram R$ 900,00 mas era uns 45cm agora esta maior !
lembro que eles ficaram muito feliz pela compra pois o cabelo é muito bom !eles ponharam uma parte do meu cabelo em um outro cabelo para vender!eles falaram q o cabelo loiro liso é bem procurado ! obrigada se aceitarem em abril vou até ai.

Blog do Itamaracá disse...

Ponharam ???
cortou os cabelos ou neurônios?

¬¬

Unknown disse...

gostaria de saber telefone da terezinha agurado sua reposta

fer disse...

oi zé ja comprei varios cabelos com vc ...se eu for aii vc faz um discontinho bom pra mim .bjos