O CORPO AINDA É POUCO

André Ducci, "O Anatomista"

Para o artista André Ducci, 31 anos, o corpo humano é uma máquina. Mas uma máquina graficamente interessante. Filho de médicos e desenhista "desde sempre", ele mescla técnicas da ilustração científica e referências estéticas variadas para criar figuras que transcendem à frieza dos livros de anatomia. Não à toa, Ducci também é conhecido como "O Anatomista", nome de sua série de trabalhos mais famosa.

Formado em Gravura pela Escola de Música e Belas Artes, ele saiu da faculdade direto para os corredores do Hospital Pequeno Príncipe, onde trabalhou filmando e editando registros de cirurgias. Já envolvido com desenhos anatômicos, encantou-se pelas "imagens belíssimas" geradas pelas câmeras, principalmente as de dimensões reduzidas. "Você vê tudo cor de rosa, ou em tons de bege. É um visual agradável, abstrato".

Nesse meio tempo, Ducci também fez um curso de ilustração médica, decisivo para o desenvolvimento de sua série. "Ali, eu descobri um lado mais técnico do desenho, bem diferente da liberdade que me davam na faculdade", conta. E é justamente dessa combinação de rigor e criatividade que surgem seus trabalhos, marcados por influências visuais diversas (arte barroca, design soviético, iconografia pop, quadrinhos underground, etc.).

Seja disponível na internet ou exposto em galerias, O Anatomista virou mesmo a marca registrada do artista. Profissionalmente, no entanto, ele se mantém como ilustrador, prestando serviços avulsos para editoras, agências de publicidade, marcas de roupa e espaços como o James Bar, cuja decoração leva sua assinatura.

Representante da geração que trabalha em casa, Ducci faz questão de seguir horários e uma certa disciplina. "Muita gente acha que trabalho de pijama. Mas eu me arrumo como se fosse sair para um escritório. Só assim a coisa dá certo", ensina o morador de um apartamento antigo na área mais central da cidade.

Seu prédio fica entre a Universidade Federal e uma região, digamos, de baixo meretrício. "É, ao mesmo tempo, uma muvuca e um clima de cidade do interior, com aquelas vendinhas que não existem mais nos bairros. A gente até conhece as garotas que fazem programa por aqui, quase dá ‘oi’ para elas", diz.

Ducci ainda se define como uma pessoa "retraída", o que explica sua posição mais discreta em comparação a outros nomes curitibanos do traço - bem mais hábeis no terreno da autopromoção. "Sou fraco nessa parte. Nem sei como eles fazem para aparecer tanto", brinca.

Seu projeto para 2009, ele revela, é ser "menos ilustrador e mais artista plástico". Isso significa transformar suas criações (a maioria em suporte digital) em gravuras, para a venda ou exposição. "Tenho que voltar a aparecer, participar do circuito. Mas meu negócio é ficar desenhando em casa mesmo", admite.


por OMAR GODOY
com foto de LETÍCIA MOREIRA
março de 2009

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