O NOME COMPLETO

Giancarlo Rufatto: foco aqui, e não em Londres

Reza a lenda que Giancarlo Rufatto levou um choque elétrico quando era criança. A sequela foi uma leve paralisia no braço esquerdo, que ele só foi descobrir na adolescência, quando sentiu dificuldade de tocar violão.

Expulso da banda de covers que formou com os colegas do Cefet de Pato Branco, Giancarlo resolveu compor as próprias músicas, com notas mais adequadas a sua pequena limitação. Desde então, tornou-se um compositor incansável, autor de canções marcadas pelo romantismo e sonoridades acústicas.

Hoje, aos 27 anos, o artista se divide entre Curitiba e Coronel Vivida, sua cidade natal, na região de Pato Branco. Formado em Publicidade, faz trabalhos avulsos para se manter, mas seu foco é mesmo a música. Participou de várias bandas e projetos-solo assinados com outros nomes até se "assumir" como Giancarlo Rufatto, em 2006.

"Eu odiava meu nome completo. Até perceber que tinha amadurecido e não fazia mais sentido ficar me escondendo atrás de alteregos", diz o admirador de cantores como Ryan Adams, Bob Dylan, Al Green e Renato Russo.

A Legião Urbana, aliás, é uma espécie de influência controversa em seu trabalho. "As pessoas acabam me ligando só à Legião. Como eu uso óculos e barba, ficam o tempo todo dizendo que eu pareço o Renato Russo", conta o músico, que também é fã assumido dos Engenheiros do Hawaii. "Sou, sim. Infelizmente", ironiza.

A verdade é que Giancarlo se posiciona como uma voz dissonante no atual cenário alternativo de Curitiba, em que muitos grupos já se formam com planos de trilhar uma carreira internacional (na esteira do conterrâneo Bonde do Rolê e do paulista Cansei de Ser Sexy). "É claro que deve ser legal tocar em Londres. Mas é a minha mãe que tem de gostar do som que eu faço, não um cara lá na Inglaterra. Queria ouvir minha música tocando numa rádio do interior", afirma.

Outra de suas marcas é justamente a liberdade de falar o que lhe der na telha. Algo raro no meio artístico curitibano, onde se prefere não incomodar para não ser incomodado. "Tem muita gente hipócrita em Curitiba, e uma das coisas que eu mais gosto é meter a boca nos outros", diz.

Para ele, existe um certo cânone local blindado contra críticas. "Ninguém tem coragem de falar da Relespública, por exemplo. Eles já fizeram muita coisa boa, mas são irrelevantes hoje em dia", afirma.

Depois de passar os últimos três anos como solista, Giancarlo recentemente se juntou a uma banda. É o Hotel Avenida, cuja formação inclui figuras experientes do rock de Curitiba. Será que o trovador solitário, como diz o clichê, finalmente encontrou sua turma? "Acho que sim. O Ivan (Santos, do grupo OAEOZ), que hoje toca comigo, conheceu meus trabalhos antigos, gostou e acabou me adotando", conta.

Prestes a gravar o primeiro álbum, o Hotel Avenida segue fazendo shows pela cidade. E, no momento, os outros integrantes tentam convencer o vocalista a fazer um número solo no meio da apresentação. "Eu não entendo. Quando tocava sozinho, todo mundo dizia para eu formar uma banda. Agora que eu tenho uma, querem que eu toque sozinho", diverte-se.

Giancarlo Ruffato no MySpace

por OMAR GODOY
com foto de divulgação
março de 2009

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