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Atiradores falam de seu fascínio por armas de fogo
e se queixam da nova cultura desarmamentista do país

Antônio aguarda uma autorização do Exército para comprar sua pistola

Pista de IPSC: combinação de velocidade, precisão e potência

Guilherme atirou pela primeira vez aos 5 anos

Sexta-feira, início de uma noite de calor. Enquanto os bares continuam lotados no happy hour, um grupo de homens entre 25 a 40 anos não está nem aí para a badalação. Reunidos em um clube no bairro do Rebouças, eles só querem saber de uma coisa: mandar bala com suas pistolas.

Todos são praticantes de tiro prático, uma atividade organizada que já conta com federações em mais de 60 países. Ao contrário do tiro esportivo, incluído nos jogos Olímpicos e Panamericanos, o prático não limita o atirador a postos fixos. De quebra, permite o uso de calibres maiores, acima de 38.

São várias modalidades, sendo que uma das mais populares é o IPSC (International Practical Shooting Confederation). A ordem, aqui, é se movimentar em pistas que simulam situações reais de confronto com armas de fogo. No fim, vence quem melhor combinar precisão, velocidade e potência.

Para ser um atirador, é preciso se associar a uma federação e obter um registro junto ao Exército. Dessa forma, o indivíduo pode comprar e transportar armas de uso restrito sem a necessidade do porte. Novato no esporte, o empresário Antônio Frizzo Jr., 39, espera ansiosamente por essa autorização.

"Só estou aguardando o registro para comprar a minha pistola’’, diz Antônio, iniciado no esporte por seu gerente de banco. ‘’Ele me trouxe ao clube de tiro e pouco tempo depois eu já estava vindo sozinho. Agora venho quase todos os dias, acho que estou viciado’’, brinca o empresário, que ainda usa o material do clube.

Para ingressar de vez nesse universo, ele vai desembolsar cerca de R$ 4 mil (entre certidões, munição e a arma em si). ‘’Mas vale a pena. É uma ótima forma de aliviar o estresse’’, afirma.

Quem atira admite: dar seus pipocos por aí é mesmo uma mania. Mania que não se restringe aos clubes especializados, pois boa parte dos praticantes também coleciona armas em casa. Um fascínio que surge na infância, quase sempre por influência do pai ou do avô.

Que o diga Guilherme Scotti, 27, um dos membros da família que administra o clube do Rebouças. Seus primeiros tiros foram dados quando ele tinha apenas 5 anos. ‘’Meu avô e meu pai caçavam, cresci com muitas armas em casa’’, conta.

Formado em Marketing, Guilherme também é instrutor de tiro autorizado pela Polícia Federal. Uniu o útil ao agradável e hoje ministra vários cursos, inclusive particulares - o que ele chama de personal shooting.

Como se não bastasse, o atirador ainda costuma viajar para o Uruguai, onde a caça é permitida. ‘’É mais do que um hobby ou uma profissão. É um estilo de vida mesmo’’, reflete.

Questionado se não seria mais fácil (e barato) usar armas de pressão ou paintball, Guilherme responde no ato. ‘’Se você quer saber como é atirar de verdade, tem de usar arma de fogo. É como comparar o carro ao autorama’’.

José Teixeira, 27, é outro que transformou lazer em trabalho. Apesar de ter dois diplomas na área de Ciências Aeronáuticas, a paixão falou mais alto, e agora ele ganha a vida como armeiro (especialista em reparo e customização de revólveres, pistolas e afins).

A exemplo de Guilherme, José também atirou pela primeira vez quando era criança. ‘’Meu pai tinha armas para defesa e eu vivia fuçando os armários até encontrá-las’’, lembra. Não demorou muito e o futuro armeiro já sabia montar e desmontar os trabucos.

Aos 21 anos, comprou a primeira pistola e não parou mais. Ele prefere não revelar quantos itens tem em casa, mas seguramente são mais de 12 - número mínimo para configurar uma coleção. ‘’É difícil explicar porque gosto tanto disso. Tem gente que fica louco quando vê uma Mercedes. Comigo, isso acontece com armas’’, afirma.

SENSAÇÃO DE PODER

Essa fetichização da arma de fogo é alimentada pela indústria. Nos catálogos, sites e revistas, as peças são mostradas de forma quase sensual. Vende-se, mais do que a possibilidade de se defender, uma verdadeira sensação de poder.

"Tudo é sensação de poder nessa vida. Quando você compra um carrão, está mostrando que tem poder’’, justifica o empresário Mario Brandalize Filho, 51, presidente de Federação Paranaense de Tiro Prático, que reúne cerca de 1.300 afiliados.

Em 1989, ele deu apenas sete tiros com uma pistola calibre 45, emprestada de um amigo. Foi o suficiente para descobrir que aquela adrenalina e o cheiro da pólvora fariam parte de sua vida para sempre. Hoje, Mario é vice-campeão brasileiro de IPSC, na categoria senior, e tem seis armas - uma para defesa e cinco de competição. ‘’A gente compra mais pela emoção do que pela razão’’, confessa.

Mas os atiradores garantem: a empolgação de segurar um máquina de matar é coisa de iniciante. ‘’Quando você começa a praticar, acaba indo mais para o lado do esporte’’, diz Jonas Stefani, 27, recém-aprovado num concurso para a Polícia Civil. ‘’A fase da tara já passou. Agora eu vejo a arma como um instrumento esportivo’’, endossa o engenheiro Rodrigo Gonçalves, 36.

Seja como for, não deixa de ser um hobby politicamente incorreto, certo? ‘’Eu não definiria dessa forma. Talvez seja um hobby controvertido’’, contesta Mario.

Para ele, há uma cultura anti-armamento no Brasil atualmente. O que faz com que as pessoas tenham medo até de pistolas e revólveres descarregados. ‘’O problema não é a arma, e sim o mau uso dela’’, diz, antes de mostrar, orgulhoso, os vídeos de suas performances no campeonato brasileiro.

DEPOIS DO REFERENDO

Conseguir o registro de atirador junto ao Exército não é fácil. São exigidos tantos testes e certidões negativas que muitos candidatos recorrem a despachantes especializados para agilizar o processo. Obter o porte de arma, então, é quase impossível hoje em dia.

Os atiradores afirmam que a concessão, por parte da Polícia Federal, ficou mais difícil desde o chamado Referendo do Desarmamento, realizado em 2005. De acordo com eles, a PF restringiu radicalmente o porte depois que a maioria dos eleitores rejeitou a proposta defendida pelo governo - de proibir a comercialização de armas de fogo e munição em todo o país.

E como se trata de um poder discricionário (situação em que a autoridade pública tem liberdade para decidir de acordo com a conveniência e a oportunidade), os processos podem ficar empacados por anos. "O governo não conseguiu o salame inteiro e resolveu ir pegando as fatias", opina o armeiro Teixeira. "Quem quer tirar o porte são os homens de bem, e não os bandidos, que estão andando armados por aí", lamenta Brandalize.

por OMAR GODOY
com fotos de THEO MARQUES
março de 2009

Um comentário :

Unknown disse...

no meu caso, o gosto por armas é de berço! meu avô é militar e sempre colecionou armas. seus dois filhos homens nunca demonstraram interesse em acompanhá-lo no hobby, então ele depositou as fichas no primeiro neto que estava a caminho. naaceu uma menina, mas ele já tinha feito tantos planos praquele primeiro neto que não desanimou: me ensinou a atirar e caçar. atualmente deicum tempo, mas vou retomar em breve. gosto de atirar, canalizo todo o meu estresse na arma