INOVAÇÃO CONTRA A CRISE

Frederick van Amstel: descomplicando a tecnologia

Frederick van Amstel, ou simplesmente Fred, é a cara da geração 00. Fascinado por tecnologia, atua como consultor de empresas, mantém um blog famoso e ainda conduz uma ONG. Trabalha praticamente o tempo todo em casa, onde pode fazer experimentos voltados para facilitar a vida das pessoas - e, de quebra, descobrir novas oportunidades de negócios.

Sua vida profissional se mistura com a pessoal, é verdade. Mas não há nada que pague o prazer e a independência que estão por trás dessa opção. "Ralar" em dobro, portanto, é apenas uma consequência do envolvimento profundo com seus projetos.

Aos 26 anos, Fred é uma referência jovem quando se fala em usabilidade no Brasil. Um conceito cada vez mais em voga, e que trata justamente da facilidade de uso de uma determinada ferramenta. Para ele, resquícios da era industrial ainda colocam a tecnologia como um fim, e não um meio. "É como se a máquina soubesse mais do que a pessoa, que é quem realmente resolve os problemas", diz.

Seja no blog Usabilidoido ou no site da ONG Instituto Faber-Ludens, Fred está sempre buscando exemplos de "humanização da tecnologia". O próprio grupo desenvolve projetos específicos - como a cadeira de rodas inteligente, ou o game de treinamento para árbitros de futebol. A ordem, ele explica, é eliminar tudo o que pode confundir o usuário.

"Não deixa de ser uma questão de comunicação", afirma, justificando sua graduação na área. A faculdade de jornalismo, no entanto, não trouxe o conhecimento que Fred perseguia. A saída foi cursar um mestrado em tecnologia, título que impulsionou sua carreira acadêmica e o conduziu à coordenação de uma pós-graduação em design de interação.

Coordenador pedagógico, blogueiro e "ongueiro" de plantão, ele ainda presta consultoria a empresas. E, ao contrário do que se pode pensar, o atual momento de crise tem sido ótimo para quem lida com inovação. "Quando as grandes companhias estavam ganhando dinheiro, ninguém queria saber de mudar nada. Agora que as vendas caíram, está todo mundo atrás de novas soluções", afirma.

Mas não pense que Fred é o típico geek de plantão. Ele tem lá suas contradições, a começar pelo fato de ser hare krishna. "Minha religião tem um ideal de simplicidade, e até faz uma crítica ao consumismo. Por outro lado, se você não pode mudar a sociedade, comece mudando você mesmo. Tento embutir esses valores nos meus projetos", reflete.

Outra aparente incompatibilidade é a sua rejeição pelo telefone celular, que Fred define como uma "ferramenta de controle social horizontal". "Todo mundo tem medo de um Big Brother que vigia tudo. Eu tenho medo é dos little brothers, das pessoas próximas que podem controlar todos os meus passos", diz, com a certeza de que a "culpa" é sempre dos humanos - e nunca das máquinas.

Usabilidoido, Faberludens

por OMAR GODOY
com foto de THEO MARQUES
abril de 2009

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