O "DA POLTRONA"
Todo dia ele faz tudo sempre igual. Às 18 horas, o advogado Adriano Bronholo, 37, encerra o expediente e vai direto para o cinema. Seu ritual é simples. Entra na sala ainda iluminada e senta praticamente colado à tela. Não come sequer uma mísera pipoca, para não perder a concentração. E são raras as vezes em que não parte para uma segunda sessão.
Adriano calcula que cerca de 270 filmes são lançados por ano no circuito comercial de Curitiba. Sem medo de exagerar, garante que assiste a 90% deles. No período das férias de verão, por exemplo, chega a ver até as produções da Xuxa, já que as salas são tomadas pelos títulos infantis. Definitivamente, é o cinéfilo com mais horas de poltrona da cidade.
Mas sua praia é o cinema de arte, mais alternativo. Pena que as opções por aqui sejam escassas para quem tem esse tipo de paladar. Para ele, a ''era de ouro'' foi mesmo entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, quando a Fundação Cultural de Curitiba mantinha quatro salas voltadas para as produções cult. ''Praticamente tudo o que passava em São Paulo chegava aqui também'', lembra.
E por falar em memórias, o advogado conta que sua relação com as imagens em movimento começou ainda na infância. Enquanto os outros garotos jogavam bola na rua, ele passava horas em frente à televisão, vendo filmes até a programação acabar. Sua escola foi o Corujão, a Sessão de Gala, o Domingo Maior...
Adriano acredita que o cinema de certa forma preencheu uma lacuna deixada por seu avô, um contador de histórias nato, que morreu quando ele tinha 13 anos. Foi nessa época, aliás, que surgiu o interesse pelas produções mais artísticas. Por acidente, diga-se de passagem.
O jovem cinéfilo comprou ingresso para ver Rock Estrela e acabou entrando na sala errada, que exibia O Beijo da Mulher Aranha. ''Fiquei surpreso com aquilo. A história era contada de um jeito diferente do que eu estava acostumado a ver'', recorda.
O advogado, que nunca saiu no meio de uma sessão, também coleciona tudo o que for relacionado ao cinema. A começar pelos anúncios de filmes publicados em jornais, que ele recorta diariamente. E também livros (mais de dois mil), DVDs (cerca de mil) e incontáveis revistas. Até francês ele aprendeu para ler a lendária Cahiers du Cinema.
Adriano ainda escreve sobre o que assiste e até começou um blog, que pretende reativar. Mas esse tipo de reconhecimento não importa muito para quem se realiza para valer dentro de uma sala escura. É ali que o cinéfilo, solteiro e sem filhos, reflete, sonha e encontra os amigos, igualmente loucos por filmes. ''O cinema é a minha família'', arremata, sem um pingo de arrependimento.
por OMAR GODOY
com foto de DIEGO SINGH
abril de 2009
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Um comentário :
todo dia ela faz tudo sempre igfual, me sacode às 6 horas da manhã, me sorri um sorriso pontual...
=D muito bom!
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