O JAPÃO É AQUI

Lina, do Centro Cultura Tomodachi: filosofia através do idioma

Há pouco tempo, o governo do Japão anunciou um projeto para ''regulamentar'' a culinária típica do país. A ideia era resgatar a essência de certos pratos, desvirtuados por adaptações ocidentais (quem curte o brasileiríssimo sushi com queijo e goiabada sabe do que estamos falando). Mas ninguém por lá deu muita bola, e a proposta foi engavetada.

Corta para o Brasil. Em Curitiba, no palco de um concorrido evento para fãs da cultura pop nipônica, uma banda de rock toca apenas temas de desenhos animados made in Japan. À frente dos músicos, uma garota negra, de no máximo 20 anos, canta sem um pingo de sotaque. O público delira.

Volta para o Japão. O grande ídolo do momento na música tradicional do país é negro. E americano de Pittsburgh. Quem se importa? Jero, neto de japoneses, arrasta multidões de todas as idades aos shows.

Esses e outros cruzamentos culturais já não são mais previsões para o futuro. Acontecem aqui e agora, e só tendem a ganhar mais visibilidade nos próximos anos. ''Isso é, ao mesmo tempo, assustador e espetacular'', diz a advogada e professora de japonês Lina Saheki, 32, antenada com a movimentação. Sem muito alarde, como preza a tradição oriental, ela criou, com outros quatro amigos, um espaço catalizador dessas tendências.

Inaugurado em agosto de 2008, o Centro Cultural Tomodachi, no Largo da Ordem, oferece aulas de língua japonesa, mangá, música, origami, filosofia, história do oriente, etc. ''A mentalidade ocidental coloca o Japão como algo muito distante. Nossa proposta para o centro era criar um lugar menos étnico e mais acessível'', explica.

Lina hoje se divide entre a gestão do espaço e as aulas de japonês. Mas revela que jamais se imaginou como professora da língua. Filha de japoneses, cresceu em Vitória (ES), onde o pai fazia questão de dar lições diárias do idioma para a família. Formou-se em Direito e começou a lecionar numa faculdade, até que uma experiência fora do país mudou os rumos de sua trajetória.

Em troca de uma bolsa de estudos para cursar um doutorado na Espanha, Lina passou a ensinar japonês para funcionários da Unesco. Esse reencontro com a língua, dessa vez na condição de instrutora, foi uma revelação. ''Cada palavra, cada ideograma, tem um sentido muito prório, profundo. Descobri que poderia ensinar filosofia através do idioma'', conta.

Em Curitiba desde 2006, quando se mudou para ficar mais perto do noivo, ela começou a perceber o grande interesse dos jovens pela cultura nipônica (sempre a partir dos mangás, animes e afins). E apostou que haveria uma demanda por aprofundamento. Daí para a fundação do Tomodachi (que significa ''amigos'' em português) foi só uma questão de tempo. ''Aqui, não ensinamos apenas a língua. Ensinamos valores. Sou muito idealista'', conclui.

Centro Cultural Tomodachi

por OMAR GODOY
com foto de DIEGO SINGH
janeiro de 2009

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