LIVRE PARA SER POPULAR

Luiz Felipe Leprevost: a favor da vaia

"Quem que gosta de se alimentar só de rissole e fanta uva? Sei de gente faminta capaz de mastigar o pintinho amarelinho do Gugu Liberato ainda vivo."

O trecho, extraído do novo livro de Luiz Felipe Leprevost, dá uma dica sobre a verve do autor. Seus contos trazem um humor trágico, ou talvez seja o contrário. Tanto faz, na verdade. "Não identifico o humor quando estou escrevendo. Mas, de tão trágicas, algumas situações se tornam patéticas, grotescas", afirma.

Leprevost, de 29 anos, considera-se um escritor. Mesmo transitando pela música (com o projeto Normas da ABNT) e a dramaturgia (é formado em Teatro e prepara três peças para 2009, uma delas como diretor). "No fim das contas, tudo é literatura, ficção", justifica o autor de seis livros, sendo dois de poesia. O mais recente, Inverno Dentro dos Tímpanos, é o primeiro produzido e lançado em um esquema profissional.

Desde 2007, quando retornou de uma temporada de três anos de estudos no Rio de Janeiro, Leprevost emenda um projeto no outro. Esse fôlego criativo é fruto justamente da experiência carioca. "Voltei com uma liberdade artística maior. Coisa que você só consegue se anda de bermuda e chinelo e deixa a barba crescer", brinca.

Envolvido pelo clima despojado do lugar, ele também viu seu trabalho se tornar cada vez mais leve e popular. "Passei a me diferenciar dos pedantes de plantão", garante o artista, que define o Rio como "Cidade Maravilhosa, população do dane-se" (a palavra é outra, mas enfim...).

Já os curitibanos, ao contrário, continuam com seus receios e pudores. "Enquanto as pessoas daqui não tiverem a capacidade de vaiar, não teremos um público de verdade. Falo de vaia num sentindo simbólico, de crítica, de reflexão", diz.

A volta para Curitiba, ele conta, deveu-se à "estrutura afetiva e material" que sua família pode oferecer. Aliás, o parentesco com figuras influentes na cidade não poderia ficar de fora da conversa.

O escritor é irmão do deputado estadual Ney Leprevost (PP) e dos empresários João Guilherme e Alexandre, donos de bares e produtores de eventos. Mas garante que os laços familiares mais atrapalham do que ajudam. "Já sofri preconceito da classe artística por causa do sobrenome. Por outro lado, algumas pessoas acreditam, equivocadamente, que eu poderia contribuir para projetos graças à influência de meus irmãos".

Entre um lado e outro, Leprevost fica com os amigos que já compreenderam sua postura independente. Tão independente que ele admite ter uma certa dificuldade para lidar com os aspectos mais práticos da produção cultural - como a formatação de projetos para leis de incentivo e investidores. "Estou começando a acreditar que os grandes dramaturgos de hoje em dia são os caras que sabem elaborar projetos", diverte-se.

por OMAR GODOY
com foto de MARCOS BORGES
novembro de 2008

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